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8 Lições que os empreendedores estão aprendendo com a crise do Coronavírus

O reflexo da suspensão de boa parte da atividade comercial devido a crise do Coronavírus acabou gerando, como grande consequência, impactos econômicos. Estes impactos começam com a redução nas vendas, que diminui o faturamento, e, para muitas empresas, acaba gerando um ciclo de cortes de gastos, demissões e até a falência. E com as demissões e a redução das atividades comerciais, a economia acaba sofrendo um impacto ainda maior, precisando de planos de recuperação bem sólidos por parte das equipes econômicas.

E estes impactos econômicos mostram como a realidade de muitas empresas, independente do porte, já estava bem abaixo do esperado, do ponto de vista da gestão financeira, já que, em menos de um mês de isolamento, muitas já encerraram suas atividades. De acordo com o SEBRAE, pelo menos 600 mil empresas fecharam as portas no Brasil em razão dos efeitos econômicos da pandemia do Coronavírus. Além disso, 30% dos empresários precisaram buscar empréstimos para manter seus negócios funcionando, e destes, 59,2% tiveram o pedido negado.

Apesar deste cenário tão delicado, são nestes momentos de crise que muita gente acaba aprendendo. Confira algumas lições que estão sendo aprendidas pelos empresários, de empresas de todos os portes:

1)     O Planejamento nunca pode ser deixado de lado

Planejamento é algo que muita empresa deixa de lado. O excesso de otimismo, a dificuldade de pensar no futuro e vários outros fatores acabam sendo o motivo disto. Porém, a falta de um planejamento é um tiro no escuro que a empresa está dando. O planejamento acaba sendo o responsável por criar os objetivos e as estratégias que nortearão para onde o negócio deseja ir. A partir do Planejamento Estratégico, deriva-se o Planejamento Financeiro, que dará o norte e criará as projeções de entrada e saída de dinheiro, mostrando como fica a saúde financeira da empresa nos períodos futuros.

Como o futuro é incerto e pode sofrer mudanças de rotas por fatores internos ou até fatores externos (como o Coronavírus), é importante trabalhar cenários, considerando, por exemplo, um cenário pessimista (para momentos de crise, como este que estamos vivendo), um cenário realista e um cenário otimista.

A empresa que já possui um plano de ação para momentos de crise consegue atravessá-la de forma muito menos dolorosa. Já empresas que não estavam preparadas para momentos mais delicados, precisarão tomar decisões mais rápidas e assertivas, o que não é nada simples.

E os planejamentos podem, e devem, ser modificados ao longo do tempo. Portanto, num cenário como estamos vivendo hoje, totalmente extraordinário, alterações no planejamento são importantes para o balizamento da situação.

2)     Ter controle sobre as finanças é essencial para qualquer negócio

Muitas empresas, principalmente as de menor porte, acabam deixando de lado um bom controle sobre as finanças. Números da cabeça, planilhas incompletas e dados perdidos são muito comuns, o que fazem com que o empresário não tenha noção correta sobre a saúde financeira do negócio. E, não ter este controle, principalmente num cenário de crise, acaba dificultando a tomada de decisões.

Não ter o controle financeiro significa que os empresários não possuem conhecimento sobre como está a saúde financeira da empresa. Por isso, ter um fluxo de caixa completo e atualizado é imprescindível.

3)     A Reserva de Emergências é vital

Já vimos que muitas empresas já encerraram suas atividades, com menos de um mês de crise. Praticamente em todos estes casos, o motivo foi a falta de caixa para conseguir honrar com os compromissos. Existem até alguns casos de empresas que até teriam valores a receber futuramente, ou que possuem ativos com baixa liquidez (por exemplo imóveis), mas que não possuem dinheiro em caixa, o que os impossibilita de pagar seus compromissos, levando ao cenário de endividamento, e, posteriormente, falência.

Para evitar isto, é importante que a empresa tenha dinheiro guardado de forma que seja acessível e com baixo risco de desvalorização. Este dinheiro guardado é representado pela Reserva de Emergência, que, como o próprio nome diz, é um recurso que está disponível para quando as coisas saírem do esperado.

E é importante que esta reserva financeira seja formada para garantir que a empresa funcione por um determinado período, já que não sabemos por quanto tempo o cenário de emergência durará. Uma sugestão é que esta reserva seja formada por recursos que garantam o pagamento de pelo menos seis meses da empresa.

Neste processo de criação da reserva de emergência, independente do valor que será guardado mensalmente, o importante é consolidar este hábito de separar periodicamente um dinheiro que, aos poucos, irá completá-la. E lembre-se, isto pode levar tempo.

4)     Nunca deixe todos os ovos na mesma cesta

Esta expressão é muito usada para nos referirmos aos investimentos. Quando concentramos todos os ovos numa mesma cesta, corremos o risco de quebrar todos ao mesmo tempo caso derrubemos a cesta. Se distribuirmos os ovos em cestas diferentes, mesmo que algumas cestas caiam e os ovos se quebrem, ainda temos outros ovos garantidos.

Agora troque “ovos” por “dinheiro” e “cestas” por “investimentos”. Se concentramos todo o nosso dinheiro num mesmo investimento e acontece alguma coisa com este, corremos o risco de perder tudo. Agora, caso nosso dinheiro esteja diversificado, este risco é diluído.

Portanto, em relação aos investimentos da empresa, não tenha tudo centralizado na mesma coisa, trabalhe com a diversificação. Ter tudo em imóveis e ativos imobilizados, por exemplo, representa uma baixa liquidez, o que pode dificultar o resgate quando precisar (algo parecido em concentrar todo o ativo da empresa em estoque). Ter todos os investimentos em ativos mais arrojados, como ações, pode trazer desvalorização na hora do resgate, por conta da variação dos preços. Portanto, diversifique os investimentos da empresa de acordo com os objetivos, considerando o prazo e o risco.

5)     Empresas não caminham sozinhas

Muitos empresários possuem a sensação de que seus negócios são independentes de qualquer coisa e caminham sozinhos. Porém, neste cenário de crise em que estamos, vemos que tudo funciona como um ecossistema, formado por vários stakeholders: governo, clientes, concorrentes, parceiros, fornecedores e colaboradores.

Para exemplificar como é importante existir o equilíbrio neste ecossistema, vamos considerar o exemplo de um coworking. Digamos que, mesmo vendo tudo o que está acontecendo, e recebendo diversas solicitações de desconto e flexibilização no pagamento de seus clientes, o proprietário se recuse a negociar qualquer coisa. Muitos clientes, para pagar o aluguel, podem acabar se endividando, e quebrarem. Caso quebrem, o proprietário do coworking estará perdendo clientes. E, no cenário de crise, pode não ser tão simples conseguir novos clientes.

Desta forma, em momentos de dificuldade para todos, tomar decisões que tragam um equilíbrio para todas as partes é muito importante. Algumas empresas têm criados movimentos para fortalecer os seus stakeholders.

6)     O posicionamento e as iniciativas da empresa e (também) de seus sócios pode trazer consequências negativas

Neste cenário de dificuldade, muitas empresas e seus respectivos sócios tem criado posicionamentos e iniciativas, que, em alguns casos, podem agregar valor à marca, mas também, podem queimá-la.

Empresas que fazem campanhas e ações em prol dos seus funcionários, do ecossistema em que estão envolvidos e da sociedade acabam “ganhando pontos” com os consumidores.

Por outro lado, seja por fala dos sócios ou até por ações tomadas pelas empresas, já apareceram alguns casos que estão, literalmente, queimando a marca. Ações tomadas como decisões ou descumprimento da quarentena acabam fazendo muita gente nunca mais querer comprar nada da empresa.

7)     Especialistas existem para auxiliar

Muitas medidas provisórias estão sendo criadas pelo governo para auxiliarem os negócios neste momento de dificuldade econômica. As instituições financeiras também têm criado linhas de crédito especiais. Porém, muitos empresários ainda optam por tomar decisões no “achismo” ou consultam fontes que podem distorcer os dados, sem sequer consultar algum especialista. Isto tem levado muita gente a se cadastrar no lugar errado, sofrer golpes ou tomar uma decisão no momento errado. Buscar boas fontes para tomar decisões e criar estratégias poderia ter evitado estes erros.

8)     Ninguém tem bola de cristal

O Brasil passou por um momento muito delicado nos últimos tempos por conta de uma recessão. Recentemente saímos desta recessão, mas a retomada ainda estava bem lenta, com muita gente desempregada e o crescimento do Produto Interno Bruto abaixo do esperado.

Porém, muita gente dizia que o país só iria crescer nos próximos tempos. Frases como “invista nisso que o retorno é garantido” e “Já tivemos a crise, agora só vamos crescer” estavam aparecendo com certa recorrência.

Isto reforça que ninguém tem uma bola de cristal para garantir o que acontecerá amanhã. Para projetar (e não garantir) este futuro, é preciso muito estudo e análise, e, em paralelo, sempre ter um planejamento. Isto reforça que fórmulas prontas não existem e que, como mostra a história, crises acontecem de tempos em tempos, sem uma data exata para começar.

  

Victor Barboza

Especialista em Finanças e Fundador da GFCriativa